domingo, 1 de fevereiro de 2009

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Afonso Arinos em "Foetuna Crítica", afirma que Drummond é, por ele, distinto dos outros poetas pela "sua profunda inteligência". Drummond é acima de tudo inteligente. Cada poema seu é um desafio para o leitor. É um novo desvencilhar, por entrelinhas, o mistério que le quer nos passar ou uma simples mensagem que quer expressar.
è um poeta de poesia militante, com uma linguagem poética destilada ao último grau, reduzida a sua suposta essência, voltada a sua visão de mundo, com precisão de linguagem.
Em "A Flor e a Náusea", obbservamos que abandonou o humos antigo para voltar-se a uma poesia crítica, denunciando numa posição onde se apresenta ideológico, elevando o cotidiano ao paraxismo "...vou de branco pela rua cinzenta... / Devo ir até o enjôo?" Por que enjoo? Numa rua tão comum, num cotidiano andar "pela rua cinzenta"? Em seus poemas, Drummond traz, quase sempre, uma interrogação. Está isolado: "Preso à minha classe..." e exprime angustiosa e agudamente o seu isolamento. Angusti-ase por não ver ainda o novo lá fora. Continua tudo do mesmo jeito: "O tempo é ainda de fezes". Há inda sujeira, injustiça, maldades e ele acaba se fundindo nesse tempo. E é por isso que sofre "O tempo pobre, o poeta pobre..." Essa fusão é sinal de que o novo não chegou ou ainda não é forte o suficiente para convencer e mudar. Porque o tédio, a indiferença continua. "...Estão menos livres, mas compram jornais..." Todos agem como se nada acontecesse: "Vomitar esse tédio..."/Quarenta anos e nenhum problema ? resolvido.
Há um comodismo no ar que precisa serquebrado. É preciso algo novo que não as velhas coisas, o velho sim, convencional e por vezes conveniente. Nasce, então, uma flor, uma flor que nasce no asfalto, que enfrenta sol, chuva, mas que é apenas regada por lágrimas. Não é uma flor artificial, de papel, nascida nas academias. É uma flor que nasce por entre o limo das pedras, se alimenta deste limo e "Seu nome não está nos livros".
É agora tempo presente (nasce uma flor), que embora comparada ao passado (ao menino de 1918) é inteiramente distinto, temporalmente definidos. O menino e o homem escrevem em conjunto e se concretizam, ao nascer a flor.
Nasce uma flor - modernista -, com voz, essência pura do poeta - nasce para dar voz. Pode ser feia, obscura, não compreendida, mas é poesia, é essência, sentimento, verdade, é flor.
Furou o asfalto, despertou, deu voz.
Liberta? Revela?
Sim, talvez. Pode não estar ao alcance de todos, não alcançar todos os olhares, mas para muitos, obscura e triste, incompreendida e só, continua como o poeta, a ser sempre flor.

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