domingo, 1 de fevereiro de 2009

FERNANDO PESSOA

Dotado de extrema inteligência, Fernando Pessoa, com os seus heterônimos, marcou o seu tempo,o transcendeu e ainda hoje está a nos intrigar, interrogar e - quem sabe? - ironizar a nossa capacidade de compreendê-lo e - com reis - a nossa ansiedade e angústia até, em decifra-lo.
Essa mesma inteligência que contribuiu para controlar as suas emoções de modo a não se voltar
para a banalidade, isto é, não banalizar os sentimentos, torna-o racional e deixa-o incapaz de compreender o mundo sensível e nele penetrá-lo., como ocorre no poema "A Ceifeira".
É o talento, essa capacidade que gera nele a "escura confusão do pensamento" e o torna infeliz ('Não me traz felicidade''). O conhecer é sofrer e o conhecimento vem através da inteligência e, consequentemente, através da sua genialidade que o permite, aguçada a sensibilidade, conhecer, mas não entender. E surge, por issso, a angustia, o período de indagação, a dúvida, a busca constante ('Mas em mim não sei o que há'') que gera a infelicidade, que o mergulha na solidão e o faz sentir-se um estrangeiro.
É preciso compreender o mundo sombrio, incompreensível que o rodeia e sozinho não o fará. No seu interior, outras vozes clamam. também querem expressar as suas idéias, seus pensamentos, suas sensações. E Pessoa, então, desdobra-se, multiplica-se em função, ou melhor, na tentativa de sentir e entender ('Multiplifiquei-me para sentir"). É presiso compreeender, ainda, porque a sua capacidade criadora, a sua inteligência, o seu talento não é capaz de fazer brilhar o seu pensamento, que, embora seja parte dele como talento ( "Que é pouco chamar talento"), vive confuso, na escuridão.
É preciso, pois, que lhe "ensinem" a ser simples, a ser o poeta da natureza, sentindo apenas, desaprendendo a pensar, para ter tão somente o não pensar. É preciso enxergar o exterior, sem a preocupação de conceituá-lo, defini-lo. Mas tão somente senti-lo, como dizer que as flores sorriem, os rios cantam e correm que é "A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.E não as suas cores, os seus formatos e tamanhos.
Talvez até, ao criar os heterônimos - maior fenômeno na vida do poeta (talvez) - tenha ele, Pessoa, tentado mostrar o quanto é difícil, quase impossível ser o filósofo do não pensar como o mestre Caeiro, ou o "ignorado", indiferente, como Reis ou até o angustiado por querer experimentar o tudo como Campos, num mundo copnstruído e constituído por homens "falsos", que constroem conceitos (falsos) e fogem da simplicidade, e por isso se tornam angustiados e infelizes, mergulhados ´`A sua estupidez de sentidos..."
Para Caeiro, as coisas são se constituem no pensamento, mas nas sensações. E como a natureza, como as árvores, os rios, não quer pensar. Quer desnudar-se de todo o aprendizado para, com a Natureza, reaprender. Reaprebder que enquanto os "homens falsos" buscam entender a linguagem da Natureza, entrelaçados, mergulhados em pensamentos, a Natureza permanece tranquila, porque não é linguagem, mas feita apenas para sentir.
Assim, enquanto Pessoa mergulha num mundo de angústia, indagação sem resposta por saber que é o seu talento instrumento que lhe abre as cortinas do saber e da dor, o mestre Caeiro busca na Natureza o equilíbrio, a simplicidade e lhe ensina que é aí, na simplicidade, que está a paz. Indagações só aumentam a dor. No poema antes citado, a "pobre ceifeira" canta porque não conhece a complexidade dos homens, mas a simplicidade dos rios, das flores.

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