domingo, 6 de março de 2011

Mulher ao Espelho

Cecília Meireles


Hoje que seja esta ou aquela,

pouco me importa.

Quero apenas parecer bela,

pois, seja qual for, estou morta.


Já fui loura, já fui morena,

já fui Margarida e Beatriz.

Já fui Maria e Madalena.

Só não pude ser como quis.


Que mal faz, esta cor fingida

do meu cabelo, e do meu rosto,

se tudo é tinta: o mundo, a vida,

o contentamento, o desgosto?


Por fora, serei como queira

a moda, que me vai matando.

Que me levem pele e caveira

ao nada, não me importa quando.


Mas quem viu, tão dilacerados,

olhos, braços e sonhos seus

e morreu pelos seus pecados,

falará com Deus.


Falará, coberta de luzes,


do alto penteado ao rubro artelho.

Porque uns expiram sobre cruzes,

outros, buscando-se no espelho.

3 comentários:

  1. Minha querida

    Um dos poemas mais belos de Clarisse...fala dos sonhos que não foram...ilusão e desilusão, adorei e deixo um beijinho carinhoso.

    Sonhadora

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  2. Olá, querida Lice
    Vc vive a poesia em seu coração e a transcreve com ternura...
    É tempo de oração e vigilância!!!
    Bjs de paz

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  3. Olá querida amiga poeta... Desculpe a dmeora em vir te ver... Estive ausente por alguns dias resolvendo como contornaria alguams pedras do caminho, do meu caminho... Mas, agora estou bem! Lindo tudo aqui, para variar! Rsrs! A poesia é seu espelho e o reflexo que encontro aqui todas as vezes é encantador.. Retribuo os aplausos com mais aplausos.. bjs! Luz e Paz!

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